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SCP é furada?

17/04/2025
6 min de leitura

É seguro me vincular a uma SCP (Sociedade em Conta de Participação) para dar plantões médicos?

Muitos médicos recém-formados recebem ofertas para dar plantões como "sócios" de uma SCP. Esta proposta geralmente vem acompanhada de promessas tentadoras: menos burocracia, menos impostos e pagamentos maiores. No entanto, antes de aceitar tal arranjo, é fundamental entender exatamente o que está em jogo e os riscos envolvidos.

O que é uma SCP e como funciona no contexto médico?

A Sociedade em Conta de Participação (SCP) é um tipo específico de sociedade prevista no Código Civil brasileiro que possui uma estrutura peculiar:

  • Sócio ostensivo: É quem aparece publicamente, assume todas as responsabilidades legais e tributárias, e opera o negócio em seu próprio nome. No contexto de plantões médicos, geralmente é a empresa que administra os serviços médicos.
  • Sócio participante (ou oculto): Teoricamente é um investidor que aporta capital ou bens para o negócio, não aparece publicamente e não tem poderes de gestão. No contexto distorcido dos plantões médicos, é o papel que tentam atribuir ao médico plantonista.
  • Na prática, o que acontece é que hospitais ou empresas intermediárias propõem que o médico se torne "sócio participante" de uma SCP, recebendo seus plantões como se fossem "distribuição de lucros" - que no Brasil são isentos de tributação quando distribuídos por empresas optantes pelo Simples Nacional ou Lucro Presumido.

    Por que esta proposta é problemática para médicos?

    A utilização da SCP para remunerar plantões médicos apresenta sérios problemas:

    1. Descaracterização da natureza jurídica da SCP

    A SCP foi concebida para relações genuínas de investimento, onde o sócio participante aporta capital e recebe lucros proporcionais ao investimento. No caso dos plantões médicos:

  • O médico não está investindo capital, mas prestando um serviço
  • O médico trabalha diretamente na atividade-fim da empresa
  • Existe clara relação de trabalho disfarçada de "participação societária"
  • 2. Riscos fiscais significativos

    A Receita Federal tem intensificado a fiscalização sobre este tipo de arranjo:

  • Pode caracterizar simulação fiscal (art. 167 do Código Civil)
  • Permite a requalificação da operação pela Receita Federal
  • Autoriza a cobrança retroativa de todos os tributos que deveriam ter sido pagos nos últimos 5 anos, acrescidos de multa (que pode chegar a 150% em caso de fraude) e juros
  • 3. Ausência de proteções trabalhistas e previdenciárias

    Ao entrar em uma SCP como "sócio participante":

  • Você não contribui adequadamente para o INSS, prejudicando sua aposentadoria
  • Não tem cobertura por acidentes de trabalho
  • Não acumula tempo de serviço para fins previdenciários
  • Fica sem proteções básicas como licença médica remunerada
  • 4. Responsabilidades legais inesperadas

    Embora teoricamente o sócio participante tenha responsabilidade limitada:

  • Em caso de caracterização de fraude, você pode ser responsabilizado junto com o sócio ostensivo
  • Pode ser solidariamente responsável por dívidas fiscais
  • Pode ser envolvido em eventuais processos por erros médicos de outros profissionais da SCP
  • A visão das autoridades fiscais sobre este modelo

    A Receita Federal e os tribunais têm cada vez mais entendido que a utilização de SCPs para remunerar trabalho (e não investimento) constitui planejamento tributário abusivo:

  • Em 2018, a Solução de Consulta COSIT nº 153 da Receita Federal estabeleceu que a participação do sócio oculto não pode caracterizar prestação de serviços
  • O Superior Tribunal de Justiça tem decisões reconhecendo que arranjos societários que mascaram relações de trabalho podem ser desconsiderados para fins fiscais
  • A tendência é de intensificação da fiscalização sobre estes modelos
  • Alternativas seguras: Como receber seus plantões legalmente

    A forma mais segura e correta de receber por plantões médicos é através de uma das seguintes modalidades:

    1. Pessoa Jurídica (PJ) própria

  • Abra sua própria empresa médica (geralmente no Simples Nacional)
  • Emita notas fiscais para os serviços prestados
  • Pague os impostos devidos, que no Simples Nacional - Anexo III podem ser de apenas 6% inicialmente
  • Distribua lucros legalmente após o pagamento dos tributos devidos
  • Esta modalidade oferece segurança jurídica e tributária, além de permitir que você tenha controle sobre sua própria empresa.

    2. Vínculo CLT

  • Embora menos comum para plantonistas, é uma alternativa perfeitamente legal
  • Garante todos os direitos trabalhistas e previdenciários
  • Embora a tributação seja maior, oferece segurança jurídica completa
  • 3. Recibo de Pagamento Autônomo (RPA)

  • É uma alternativa para trabalhos eventuais ou temporários
  • Implica em tributação mais elevada, mas é completamente legal
  • Não é recomendado como solução permanente devido à carga tributária e ausência de proteções
  • Como responder a propostas de SCP

    Quando uma entidade sugerir que você se vincule como "sócio" de uma SCP para dar plantões, considere estas abordagens:

  • Explique que prefere trabalhar como PJ: "Agradeço a proposta, mas prefiro emitir nota fiscal através da minha própria empresa, pois me sinto mais seguro tributariamente."
  • Negocie um valor que compense a tributação: "Entendo que a nota fiscal implica em custos tributários. Podemos negociar um valor que considere esta realidade?"
  • Questione o modelo: "Entendo que a SCP foi concebida para investidores, não para prestação de serviços. Vocês têm algum parecer jurídico que respalde este modelo para plantões médicos?"
  • A maioria das instituições sérias aceitará sua posição de trabalhar como PJ, especialmente se você demonstrar conhecimento sobre o assunto.

    Conclusão: Priorize a segurança jurídica e fiscal

    No início da carreira, é tentador aceitar propostas que parecem financeiramente mais vantajosas. No entanto, os riscos de vincular-se a uma SCP para dar plantões podem resultar em complicações significativas no futuro, com potencial para comprometer sua estabilidade financeira e até mesmo sua reputação profissional.

    A constituição de uma empresa própria (PJ médica), embora requeira um pouco mais de organização inicial, oferece um caminho seguro, legal e sustentável para sua carreira como plantonista, protegendo seu patrimônio e seu futuro.


    A Halsted prioriza sua segurança profissional

    Na Halsted, nossa missão vai além de simplesmente oferecer serviços contábeis - buscamos proteger sua carreira médica desde o início. Como contabilidade formada por médicos, compreendemos as pressões e tentações que você enfrenta no mercado de trabalho.

    Defendemos soluções transparentes e seguras para sua atuação profissional. Nossa consultoria não apenas ajuda você a abrir e gerenciar sua PJ médica com a menor mensalidade do mercado, mas também oferece orientação sobre como negociar seus contratos de plantão de forma segura e vantajosa.

    Entendemos que, em alguns contextos, pode ser difícil evitar modelos como a SCP devido às práticas estabelecidas em determinadas instituições. Nesses casos, fornecemos orientação clara sobre os riscos envolvidos e as melhores estratégias para minimizá-los, sempre priorizando sua segurança jurídica e fiscal.

    Invista na longevidade da sua carreira. Permita que a Halsted guie seus primeiros passos profissionais com a segurança e a transparência que você merece como médico recém-formado.

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